
Qualquer alteração no processo de fabricação de um produto pode ser fatal. É necessário que preservativos não sejam porosos ou que um fósforo não produza fagulhas, por exemplo. A própria indústria tem a responsabilidade por atestar se as especificações relacionadas a um determinado produto ou serviço são válidas Para isso, utiliza laboratórios – sejam estes permanentes, temporários ou móveis –, para se certificar de que o projeto e as normas de fabricação estão sendo respeitados.
Em 2000, havia 300 laboratórios acreditados no Brasil, três deles em Minas Gerais. Hoje, a Coordenação Geral de Acreditação (CGCRE) do Inmetro já reconhece 1881 laboratórios no país, sendo 167 em Minas. A Rede Metrológica de Minas Gerais (RMMG), por sua vez, já soma 79 unidades reconhecidas, entre unidades de calibração e de ensaio. Dentre os laboratórios acreditados, Minas Gerais concentra apenas 67 de calibração, número pequeno quando comparado aos 861 em atividade no país.
Para superar esta deficiência, a especialista em gestão da qualidade de laboratórios Tania Gomide diz que o ideal seria que MG tivesse laboratórios focados nos segmentos chave de sua indústria. Para atender a um programa de desenvolvimento industrial no estado, seria necessário estabelecer laboratórios focados nas áreas desse programa, que se desenvolvam tecnologicamente, acompanhando e até induzindo o desenvolvimento tecnológico de seus produtos.
“O fundamental é manter o foco na indústria e desenvolver laboratórios que possam realizar os testes adequados em seus produtos. Para uma atividade-chave tal como a indústria alimentícia de Minas, seria importante aumentar o número de laboratórios disponíveis próximos a essas indústrias”, afirma Tania, que é também avaliadora de laboratório da CGCRE e consultora da RMMG, e participou do processo para a acreditação do Laboratório de Qualidade Nansen.
Fruto de consenso internacional e aplicável a laboratórios que prestam serviços de ensaio, a norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 se tornou referência no Brasil ainda nos anos 1990, com a denominação ISO GUIA 25. Ela veio prover rastreabilidade internacional aos serviços, de modo que os resultados obtidos sejam compatíveis com os mensurados por outros laboratórios.
“Se um laboratório atende a requisitos como equipamentos calibrados, pessoal treinado e condições ambientais adequadas, é praticamente certo que ele apresentará resultados confiáveis”, diz Tania. Essas pré-condições asseguram que qualquer erro que venha a ser cometido pode ser detectado e corrigido mais rapidamente.
Os laboratórios que atendem à norma ISO/IEC 17025 cumprem um conjunto de regras que permitem que as metodologias de ensaios obedeçam aos parâmetros internacionais, ou, no mínimo, nacionalmente aceitos. Cada ensaio requer procedimentos específicos, de acordo com o produto e a tecnologia utilizada. É aconselhável ainda, a prática de realizar ensaios de proficiência que repetem os testes de um mesmo item em vários laboratórios para avaliação a confiança dos resultados de cada um.
Qualidade é, para a especialista, o “atendimento às especificações e ao uso de um produto”. Segundo ela, o fato de um produto ser durável, por exemplo, não atesta sua qualidade. O que conta neste caso é se está adequado ao uso. “Um saco de lixo de 50 litros tem que suportar, por exemplo, um peso semelhante a cerca de 50 litros de água. Se romper com menos peso, não tem qualidade. ”
Produtos como preservativos, fósforos, brinquedos e outros que afetam a saúde e segurança do cidadão são compulsoriamente testados antes de chegarem ao mercado consumidor. Para isso, o Inmetro conta com mecanismos para aferir se os produtos comercializados foram de fato ensaiados e aprovados. Entretanto, mesmo para os produtos que não são compulsoriamente testados, a indústria é responsável se provocar algum acidente. Por exemplo, no caso de acidente na construção civil devido a produto que não atenda a normas ABNT, o fabricante desse produto poderá ser penalizado.
Tania Gomide também destaca o papel importante que a Rede Metrológica MG (RMMG), uma das redes pioneiras no Brasil tem para o desenvolvimento do complexo laboratorial de Minas Gerais. A RMMG já avaliou cerca de 500 laboratórios e propiciou mais de mil treinamentos para consolidar o conhecimento em técnicas e sistemas de gestão laboratoriais.